quarta-feira, 24 de abril de 2019

Cartaz



Carta a uma bailarina




Continuo atolado.

A primeira frase não vem decisiva
                            - nem vagamente prometedora de depois ou talvez.

 Parece andar por ali, provocadora, desafiante, sinto-a mas é transparente, um vago perfume
 a possível, uma certeza de ainda não como único tangível.
                                                                                 Coisa de mulher que nos sabe apaixonados, necessitados de um olhar, o gesto inacabado do que seria, sendo, uma carícia.

e no entanto, tantos meios, tantos fins.
                                Assim diferentes, completos no que são, mas sem princípio.

 Já sei que de alguns se poderia procurar o antes mas não é o mesmo - não fluiam as frases, ia notar-se o ponto de colagem.     
 E sei que outras podiam juntar-se, criar capítulos, articular acções,
                 mas pediriam palco, tempo,
                                                      preciso apenas de parágrafos, a pausa de um respiro não mais.

        Não é um história, é um pretexto, um suspiro súbito de quando em quando, um sublinhar mútuo ao movimento.


Que tem aquela gente que me não dá?
                                 Segredos que julguei inventar e me escapam, máscaras que desmascarando mascaram ainda?
             - Ou já disseram tudo ali cristalizado o efémero e recusam ir além, atravessar o tempo e a distância que nos vai separando?


Sossega, porque só AINDA não sei.

Ainda só não sei....


Quem dança? Tu, a Margot, Nijinsky travestido de si mesmo?
ou eu?....

É meu aquele labirinto, minha a tentação do abismo como fuga
                                  meus este allongé, este arabesque, estas pirouette e cabriole quando me invento  pássaro  vermelho fogo em parte nenhuma,  rasgo por um instante o tempo num movimento efémero nunca visível no instante em que acontece, só memória do julgar visto,
                              ainda um perfume,
                                                    uma névoa verdeazul como voo de libélula....

enveloppés, glissades, promenades ....
                                                                      sim,  nenhum pas de deux neste palco vazio como o imaginário lago onde morrem os cisnes
                                                                       ou me rendo ao fracasso.




Máscaras...
Máscaras mascarando máscaras... Mascarando-me.


Sossega.
 Só ainda não sei.
                               

Porque preciso de reencontrar todas as palavras que perdi:

as que se diluíram lentamente na neblina e no tédio,
                            as inúteis nos desesperos, nos silêncios, nas ausências, na solidão,
                       as desaparecidas no meio de tempestades e desistências,
             as que dei a desconhecidos que passavam e as que queimei por excessivas...

.... recuperar as palavras que perdi para preencher o silêncio:

as doces como mel de urze perfumado de flor de laranjeira,
as suaves como o voo de borboleta num campo de papoulas
as meigas como às das canções que adormecem as crianças
as potentes como trovoadas de março ou marés de setembro
as imensas como diziam ser as dos deuses
as dos amores loucos
as que se murmuram ao ouvido
as simples que dizemos todos os dias aos amigos


Porque a pintura não existe realmente, é um truque de circo colorido
 a cor uma ilusão, uma vibração do ar, um reflexo no espelho dos nossos olhos

(Ou talvez seja só uma forma de amor:
                                       não está, e subitamente surge, inexplicável, de surpresa,
                tímida, insegura, como envergonhada se é um fósforo, uma vela que a acorda,
violenta, inesperada, as cores intensas (como a paixão!) se a acende o relâmpago duma tempestade,
                       quente, ofuscante com a luz do verão,
                                             terna e melancólica com nevoeiro

É.
É isso a pintura (e o amor? e a arte?): uma ilusão provocada pela luz e pelo pensamento.
Se calhar mais nada.
Como eu.
Como o instante de um encontro de improvável fusão a meio de uma tarde...

Victor Silva Barros
Março - 2019

sexta-feira, 5 de abril de 2019

20. “Romeu e Julieta”

2019/ 30x60cm
2.500,00€

19. “Provavelmente, nunca pina Bausch”

2019/ 40x30cm
1.500,00€

18. “Blue Veneziano”

2019/ 40x30cm
1.500,00€

17. “A Sagração da Primavera”

2019/ 50x40cm
3.000,00€

16. “A Dança e outros Silêncios”

2019/ 40x30cm
2.000,00€

15. “O Quebra-Nozes”

2018/19/ 30x40cm
2.000,00€

14. “Requiem”

2018/ 40x50cm
2.500,00€