Victor Silva Barros - "A Dança e outros Silêncios"
Victor Silva Barros expõe, na Galeria Vieira Portuense, de 11 de Maio a 1 de Junho de 2019. A inauguração está prevista para as 16horas do dia 11 de Maio de 2019.
segunda-feira, 13 de maio de 2019
sábado, 11 de maio de 2019
quinta-feira, 9 de maio de 2019
terça-feira, 7 de maio de 2019
terça-feira, 30 de abril de 2019
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Cartaz
Carta
a uma bailarina
Continuo atolado.
A primeira frase
não vem decisiva
- nem vagamente prometedora de depois ou
talvez.
Parece andar por ali, provocadora, desafiante,
sinto-a mas é transparente, um vago perfume
a possível, uma certeza de ainda não como
único tangível.
Coisa de mulher que nos sabe
apaixonados, necessitados de um olhar, o gesto inacabado do que seria, sendo,
uma carícia.
e no entanto,
tantos meios, tantos fins.
Assim
diferentes, completos no que são, mas sem princípio.
Já sei que de alguns se poderia procurar o
antes mas não é o mesmo - não fluiam as frases, ia notar-se o ponto de
colagem.
E sei que outras podiam juntar-se, criar
capítulos, articular acções,
mas pediriam palco, tempo,
preciso apenas de parágrafos, a pausa de um
respiro não mais.
Não é um história, é um pretexto, um suspiro súbito de quando em quando,
um sublinhar mútuo ao movimento.
Que tem aquela
gente que me não dá?
Segredos que
julguei inventar e me escapam, máscaras que desmascarando mascaram ainda?
- Ou
já disseram tudo ali cristalizado o efémero e recusam ir além, atravessar o
tempo e a distância que nos vai separando?
Sossega, porque só AINDA não sei.
Ainda só não sei....
Quem dança? Tu, a
Margot, Nijinsky travestido de si mesmo?
ou eu?....
É meu aquele
labirinto, minha a tentação do abismo como fuga
meus este
allongé, este arabesque, estas pirouette e cabriole quando me invento pássaro
vermelho fogo em parte nenhuma,
rasgo por um instante o tempo num movimento efémero nunca visível no
instante em que acontece, só memória do julgar visto,
ainda um perfume,
uma névoa verdeazul como voo de libélula....
enveloppés,
glissades, promenades ....
sim, nenhum pas de deux neste
palco vazio como o imaginário lago onde morrem os cisnes
ou me rendo ao fracasso.
Máscaras...
Máscaras mascarando máscaras...
Mascarando-me.
Sossega.
Só
ainda não sei.
Porque preciso de reencontrar todas as
palavras que perdi:
as que se diluíram lentamente na neblina e
no tédio,
as inúteis nos
desesperos, nos silêncios, nas ausências, na solidão,
as desaparecidas no meio
de tempestades e desistências,
as que dei a desconhecidos que
passavam e as que queimei por excessivas...
.... recuperar as palavras que perdi para
preencher o silêncio:
as doces como mel de urze perfumado de
flor de laranjeira,
as suaves como o voo de borboleta num
campo de papoulas
as meigas como às das canções que
adormecem as crianças
as potentes como trovoadas de março ou
marés de setembro
as imensas como diziam ser as dos deuses
as dos amores loucos
as que se murmuram ao ouvido
as simples que dizemos todos os dias aos
amigos
Porque a pintura não existe realmente, é
um truque de circo colorido
a
cor uma ilusão, uma vibração do ar, um reflexo no espelho dos nossos olhos
(Ou talvez seja só uma forma de amor:
não
está, e subitamente surge, inexplicável, de surpresa,
tímida, insegura, como
envergonhada se é um fósforo, uma vela que a acorda,
violenta, inesperada, as cores intensas
(como a paixão!) se a acende o relâmpago duma tempestade,
quente, ofuscante com a
luz do verão,
terna e melancólica com nevoeiro
É.
É isso a pintura (e o
amor? e a arte?): uma ilusão provocada pela luz e pelo pensamento.
Se calhar mais nada.
Como eu.
Como o instante de um
encontro de improvável fusão a meio de uma tarde...
Victor Silva Barros
Março - 2019
sexta-feira, 5 de abril de 2019
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